sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Foi em Abril de 2010

Que comecei a fazer dieta. À bruta.
Julho do mesmo ano. Cinquenta e sete quilos e meio. Quase dez perdidos, portanto.
Julho do ano seguinte. Doze quilos em cima.

Um ano.
Um ano descompensada. Em que que a vida passou por mim. E eu tenho a sensação de que não fui eu a vivê-la.
Sabem...? É como se me visse num filme...

Durante um ano, eu cometi atrocidades alimentares.
Comi tanta coisa que nem dá para acreditar.


Se não estivesse bulímica, em vez de chegar aos setenta, teria chegado aos cem quilos.
Era capaz de, num dia de folga, comer e vomitar umas dez vezes? Vinte vezes?
E por mais que comesse, o vazio permanecia lá.
O vazio que não era preenchido com comida.

Agosto de 2012.
Ainda não curada.
Cinco meses em dieta - dois anos a recuperar dela.
O meu estômago tem memória dos dias em que a sua elasticidade foi levada ao limite.

Se eu comer uma pizza inteira, sei que vou vomitar parte dela. O meu cérebro reconhece quando o meu estômago distende para além daquele ponto. O resto desencadeia-se rápido demais e eu perco o controlo.

Mas nem tudo está perdido. Tornei-me esperta. Em vez de uma pizza inteira, como quatro fatias e deixo-as transformarem-se em gordura no meu corpo. Tento não pensar muito nisso.

Tenho manias.
Só bebo coca-cola zero ou diet.
Uso sempre adoçante no café.
O leite, os iogurtes e o queijo têm de ser magros.
Engano a fome com cigarros.
Compro daquelas gelatinas que só têm dez caloria por pote.

Durante muito tempo, perdi a vontade de me pesar. De me medir. De ter noção do quão grande estava.
Ainda há uns meses, quando fiz a avaliação física no ginásio de Portimão, pedi ao professor para não me dizer valores. Nenhuns.
Mas há coisa de dois dias, ganhei coragem. Subi para a balança do meu serviço.
Olhei em frente, sem coragem de encarar um número.

A balança do meu serviço está completamente descalibrada e diz que eu peso 56,8 quilos.

Eu até gostava que fosse verdade.
O simples facto de estar abaixo dos 60 deixar-me-ia contente.
Acontece que eu não me sinto mais magra. Nem quando os meus colegas de trabalho me lembram disso.
Eu bem olho ao espelho. Mas continuo a ver ancas demasiado salientes. Joelhos demasiados cheios. Celulite na parte de trás das coxas...

Respiro fundo.

Hoje é o último dia de Agosto de 2012.
Nos últimos cinco meses tenho sido feliz ao ponto de não caber em mim. Ao ponto de, às vezes, nem me considerar merecedora de tanta alegria.
Ponho-me a pensar que o caminho até aqui não foi propriamente simples. Mas se não fosse esse o caminho, eu não teria vindo cá parar.
Ou tinha? :)