Que comecei a fazer dieta. À bruta.
Julho do mesmo ano. Cinquenta e sete quilos e meio. Quase dez perdidos, portanto.
Julho do ano seguinte. Doze quilos em cima.
Um ano.
Um ano descompensada. Em que que a vida passou por mim. E eu tenho a sensação de que não fui eu a vivê-la.
Sabem...? É como se me visse num filme...
Durante um ano, eu cometi atrocidades alimentares.
Comi tanta coisa que nem dá para acreditar.
Se não estivesse bulímica, em vez de chegar aos setenta, teria chegado aos cem quilos.
Era capaz de, num dia de folga, comer e vomitar umas dez vezes? Vinte vezes?
E por mais que comesse, o vazio permanecia lá.
O vazio que não era preenchido com comida.
Agosto de 2012.
Ainda não curada.
Cinco meses em dieta - dois anos a recuperar dela.
O meu estômago tem memória dos dias em que a sua elasticidade foi levada ao limite.
Se eu comer uma pizza inteira, sei que vou vomitar parte dela. O meu cérebro reconhece quando o meu estômago distende para além daquele ponto. O resto desencadeia-se rápido demais e eu perco o controlo.
Mas nem tudo está perdido. Tornei-me esperta. Em vez de uma pizza inteira, como quatro fatias e deixo-as transformarem-se em gordura no meu corpo. Tento não pensar muito nisso.
Tenho manias.
Só bebo coca-cola zero ou diet.
Uso sempre adoçante no café.
O leite, os iogurtes e o queijo têm de ser magros.
Engano a fome com cigarros.
Compro daquelas gelatinas que só têm dez caloria por pote.
Durante muito tempo, perdi a vontade de me pesar. De me medir. De ter noção do quão grande estava.
Ainda há uns meses, quando fiz a avaliação física no ginásio de Portimão, pedi ao professor para não me dizer valores. Nenhuns.
Mas há coisa de dois dias, ganhei coragem. Subi para a balança do meu serviço.
Olhei em frente, sem coragem de encarar um número.
A balança do meu serviço está completamente descalibrada e diz que eu peso 56,8 quilos.
Eu até gostava que fosse verdade.
O simples facto de estar abaixo dos 60 deixar-me-ia contente.
Acontece que eu não me sinto mais magra. Nem quando os meus colegas de trabalho me lembram disso.
Eu bem olho ao espelho. Mas continuo a ver ancas demasiado salientes. Joelhos demasiados cheios. Celulite na parte de trás das coxas...
Respiro fundo.
Hoje é o último dia de Agosto de 2012.
Nos últimos cinco meses tenho sido feliz ao ponto de não caber em mim. Ao ponto de, às vezes, nem me considerar merecedora de tanta alegria.
Ponho-me a pensar que o caminho até aqui não foi propriamente simples. Mas se não fosse esse o caminho, eu não teria vindo cá parar.
Ou tinha? :)
Olá Rita!
ResponderEliminarEu sei que não me conheces apesar de termos tirado o curso na mesma Escola!
Provavelmente não vais ler este post, deves ter coisas bem melhores para fazer do que ler esta mensagem, mas mesmo assim gostava de dizer que A-D-O-R-O ler o teu blog!
Pelo que leio acho-te uma pessoa impecável, sensível e com um coração enorme. Gostava de ser como tu. Sério Identifico-me com muitas coisas que dizes. Fazes-me sentir que afinal não sou a única pessoa a pensar assim, o que me deixa muito, mas muito feliz
Confesso que descobri este o teu cantinho (não me lembro muito bem como) já não andavas na escola, mas desde logo me prendeu a atenção. Tenho pena de não nos conhecermos pessoalmente. Sim é verdade que te via pela escola mas não havia muito tempo para conviver… Conviver a sério. Conhecermo-nos todos uns aos outros. Aqueles “camiões” de trabalhos, testes e estudo que exigem de um aluno e não nos deixam ter vida social!
Perco horas aqui a ler e reler o que escreves. Já disse que A-D-O-R-O?!?!?!
Pois bem, sei que não disse nada de jeito mas fica aqui mais um comentário com carinho e na esperança que gostes.
Beijinhos, continua a seres quem és!
És uma inspiração