PREFÁCIO
Em Novembro de 2011, parti para
a Guiné-Bissau.
A
passagem por um dos países mais pobres do mundo deixou-me muitas marcas.
Algumas tão feias que prometi a mim mesma guardar segredo. O que acontece na
Guiné, fica na Guiné. Acontece que no meio de tanta pobreza, pó e baratas, há coisas muito boas. E acho que não as devo guardar só
para mim. Não seria justo.
Aposto que a maior
parte de vocês nunca pisará aquela terra. Ou porque não têm dinheiro para o
bilhete de avião – que é um balúrdio! Ou porque se o têm, vão gastá-lo numa
viagem a Paris ou às Caraíbas ou a outro sítio qualquer menos… complicado.
Atrevo-me ainda a dizer que conheço boa gente que se fosse à Guiné, não
aguentaria uma semana.
A
vida na Guiné é dura. E eu sei do que falo; não fui propriamente para um resort
turístico. Apesar de tudo, continuo a
achar que é uma terra que vale a pena ser visitada e, por isso, dou-vos a
oportunidade de a conhecerem através dos meus olhos. E repito: dos meus olhos.
Esta é só a minha experiência – cheia de desabafos tontos! Não esperem
deste livro um grande romance. E se eu disser alguma coisa que possa desagradar
alguém, desculpem. Para ser honesta, a mim dava-me imenso jeito que este livro
fosse um best seller, já que preciso de dinheiro para voltar à Guiné
mais vezes. Mas, provavelmente, ninguém o vai ler, tirando os meus pais.
Seja
como for. O meu obrigada aos guineenses torna-se público. Por me terem ensinado
coisas tão básicas como tolerância, respeito incondicional e paciência. Por me
ensinarem, sobretudo, a nunca subestimar ninguém. Agradeço-lhes por gostarem de
mim. E me demonstrarem isso mesmo.
Boa noite,
ResponderEliminarDescobri o seu blog por acaso, neste que é o gigante mundo virtual. Senti-me na obrigação de comentar apesar de não a conhecer minimamente e de achar que se calhar não vale a pena, no entanto tento. Espero não ferir susceptibilidades e desejo que entenda os meus comentários como positivos.
Fiz uma missão na Guiné durante 2 anos, conheço perfeitamente a realidade (triste) de todos os guineenses. Sou voluntária de coração e já corri umas dezenas de países em missão.
Pelo que percebi partiu para lá em Novembro e já regressou, certo? Que missão é levada a cabo em tão pouco tempo? Todas as que conheço tem o mínimo de 6 meses, pois em menos que isso não é possível fazer muito.
O que sabe/aprendeu/contribuiu em tão pouco tempo para já desejar escrever um livro? Parece-me um pouco imaturo da sua parte. A imagem que transmite é de alguém que pensa que fez muito, de alguém que se auto-idolatra de forma subentendida com uma falsa modéstia. De alguém que no seu "grupo" pensa que se destaca por ter ido uns meses para a guiné e ter visto umas coisas deprimentes.
Diz que conhece muita gente que se fosse à guiné não aguentava uma semana... Desculpe mas quem vai para a Guiné em missão é porque está bem preparado para o que vai encontrar, é porque vai fazer algo de alma e coração é porque sabe que é duro, que se passa fome, que se pode morrer, que se pode ser abusada, que se pode contrair doenças, que vai ver crianças a morrer, mas que recompensa pelos sorrisos que recebe... Quem não aguenta não chega sequer a ir. Difícil para que vai para a guiné por amor é vir embora, é virar as costas!
Os "desabafos tontos" e a sua visão (curta em espaço de tempo) devia partilha-la com os seus amigos e família e não na internet uma vez que para quem já fez missões torna-se "incomodativo" ler este tipo de coisas, este congratular-se não sei bem de quê. Mas é só a minha opinião.
Sabe que os guineenses não gostaram só de si por ser você, eles gostam de todos aqueles que sorriem e lhes fazem bem.
Desculpe se as minha palavras são duras mas são as palavras de alguém com 45 anos que está saturada de falsas heroínas.
Pelo que percebi deve ser alguém ainda jovem, um conselho: cresça, acumule experiências e quando tiver maturidade, escreva um livro.
Desejo tudo de bom.
Não me identifiquei porque não possuo conta mas o meu nome é Laura e tenho 45 anos.
Como tu, sempre tive o desejo de "fazer voluntariado". Não sei se será na Guiné, Cabo Verde ou Moçambique, mas será em África de certeza!
ResponderEliminarCara Laura,
ResponderEliminarentendo muito bem a natureza do seu comentário. Mas, como é óbvio, há coisas com as quais concordo e outras nem por isso...
Aqui vai, então.
Relativamente à extensão da missão. Considero que isso é altamente dependente dos objectivos que leva, das áreas de intervenção, etc. Conheço missões de quatro semanas com resultados muito interessantes. Um professor que foi à Guiné dar formação sobre uma temática específica, durante o seu mês de férias da escola, tem menos valor? O que ele foi lá fazer, tem menos credibilidade por isso? Não acho justo ver as coisas nessa perspectiva.
O que sei/aprendi/contribui foi muito pouco, de facto, se me comparar consigo e com outros cooperantes. Mas se me comparar com a minha vizinha do segundo andar é imenso. Isso faz de si mais importante do que eu, ou eu mais importante do que a minha vizinha? Não me parece.
A ideia do livro surgiu muito antes de eu pensar ir para a Guiné. Foi uma ideia dada pelos leitores do blog, que diziam muitas vezes verem-se nas minhas palavras. E eu não escrevia sobre passar fome, sobre abuso, sobre doenças, sobre crianças a morrer. Escrevia sobre coisas que toda a gente conhece. Um turno de hospital, ter celulite, sexo, dias de chuva.
Ir à Guiné é só mais uma experiência. Porque não partilhá-la? Quando falava em escrever um livro, não me referia a um de capa dura, daqueles que se pagam para publicar. Aliás, nem tenho dinheiro para isso. Referia-me a um livro virtual. Um livro aqui no meu blog. E aí, santa paciência. O blog é meu e eu escrevo o que eu quiser. Para quem acha isto uma palhaçada e não tem paciência para esta "falsa heroína", tem aquela cruzinha no canto superior direito do ecrã.
Mas estava eu a dizer... Porque não partilhar a experiência? Só porque foi curta? Só porque a Laura tem mais para contar do que eu? Acredito que tenha. E gostava muito de conhecer as suas histórias.
Cada um tem a sua. A Laura viveu umas coisas. Eu vivi outras. A minha vizinha do segundo andar nunca foi à Guiné mas conta histórias de clientes mal-criados do Continente que inspiram verdadeiras comédias.
Acredito que partilhar, passar a palavra, é uma forma de ajudar. Quanto mais não seja, ajudar a desmontar as ideias românticas que existem à volta das missões.
Sabe Laura, a única coisa em que parecemos estar de acordo é na parte em que diz "difícil para quem vai para a guiné por amor é vir embora, é virar as costas!". Eu não fui para a Guiné por amor, mas apaixonei-me rapidamente.
E acredite: saudadi, manga del!
Por algum motivo quero voltar.
Se a minha visão da Guiné é curta em espaço de tempo, a visão que criou de mim em função de uma postagem também o é.
Agradeço o seu comentário, de qualquer forma.
Tem o meu e-mail no blog.
Gostava que me escrevesse e me contasse um bocadinho da sua experiência.
Rita
Clair de Lune,
ResponderEliminarPersegue o sonho. E não te deixes intimidar quando as pessoas acharem que perdeste o juízo.
Pode ser duro. Mas deixa saudades.
Beijinhos :)
Rita,
ResponderEliminarTal como tinha previsto, não compreendeu de todo o meu comentário. Não vou perder muito tempo com explicações.
Não me considero superior a ninguém, faço as missões porque são elas que me fazem sentir viva e que fazem com que consiga perceber o meu lugar no mundo. Não acho que as missões que faço sejam de alguma forma superiores ao simples acto de por exemplo da minha vizinha matar a fome a um desabrigado do bairro. Nem tão pouco acho que seja melhor pessoa ou superior, a cidadãos comuns que todos os dias têm actos de bondade para com os outro ou que utilizem o seu tempo livre em Portugal a ajudar os desfavorecidos, aliás comecei o meu voluntariado nas ruas de Lisboa a dar de comer a quem tinha fome e a distribuir cobertores, ainda o faço quando cá estou. Era tão importante nessa altura como o sou agora. Era um trabalho de voluntariado tão válido como o que faço agora. Apenas fui para fora porque sou médica e foi-me pedido à muitos anos para colaborar numa missão de carácter emergente, aceitei por 6 meses e fiquei lá 1 ano. No ano a seguir levei o meu marido comigo, é professor.
Quando falei sobre duração da missão referia-me ao facto de que, tal como referiu, um professor em 4 semanas pode debitar conhecimento mas não chega para implementar verdadeiras mudanças, para ajudar na mudança e para avaliar a mudança. Virámos as costas ao fim desse tempo e rapidamente os velhos hábitos voltam e os conhecimentos “arrefecem”. Sei que o professor que lá vai 4 semanas o faz de boa vontade mas não chega. Temos que ser realistas.
Ideias românticas das missões? Um voluntário quando vai para uma missão é alertado, informado e informa-se, faz formação, conhece o cenário... Ninguém vai “de lhos vendados” para uma missão organizada. A ideia romântica (caso exista) desaparece depois da formação com a entidade de envio. Deve saber isso tão bem como eu. Quem nunca fez missões talvez tenha outra ideia, se bem com a quantidade de reportagens que passam regularmente... Acho difícil que alguém ache romântico, passar fome, dormir no chão e tomar banho de copo.
Ninguém falou de importância, apenas falei de atitude. O “tom” da sua escrita, para quem não a conhece (como é o meu caso) transparece superioridade em relação aos outros que a rodeiam e é a isso que me refiro no comentário: atitude, maturidade, nunca de importância!
Já agora, só por curiosidade, se ficou apaixonada, se quer voltar porque não ficou lá mais tempo? Porque não colaborou mais tempo?
Não se esqueça que desde o momento em que torna isto público na internet eu sou livre de ler o seu blog e fecha-lo, assim como sou livre de opinar, o blog não é restrito. E você é livre de aceitar ou manter uma postura defensiva para com quem não lhe deseja nenhum mal.
Cumprimentos e seja feliz.
Espero que conquiste o best seller virtual (?) para ganhar dinheiro para voltar à guiné, no entanto, informo-a de que a maioria das entidades que enviam voluntários pagam as viagens, pelo que não necessitará de muito dinheiro.
Tudo de bom, até um dia.
Laura
Laura,
ResponderEliminarTem razão. Você, como qualquer outra pessoa, é livre de vir cá opinar. Se eu tivesse uma postura defensiva como diz, colocava moderação de comentários. Não coloco porque não vejo necessidade. Porque quem me lê tem o mesmo direito que eu - o de dizer aquilo que lhe apetece.
Não sei por intermédio de que associação tem feito as suas missões. Eu contactei com várias antes de ir. Na maior parte delas, o voluntário tem de pagar as despesas. Provavelmente porque são instituições menores, com menos recursos e menos dinheiro. Não sou médica, sou enfermeira. Não me pediram para colaborar, eu é que fui atrás. A associação pela qual fui é uma associação pequenina. E nem é directamente ligada à área da saúde. Fui a única enfermeira enviada para o terreno.
Como deve imaginar um piolhito que tem um ano de experiência profissional morre de medo de fazer asneira. Especialmente quando se vê deparada com a necessidade de fazer coisas para as quais tem pouca formação. Tipo prescrever medicamentos.
Ora, para não fazer bem, prefiro não fazer. Prefiro voltar e digerir isto tudo. Encontrar uma associação com objectivos e estratégias mais estruturados. Uma associação que melhor me ajude a ajudar. Não sou tão arrogante como pensa, Laura. Sou a primeira a admitir as minhas falhas e fraquezas.
Cumprimentos para si também!
Estou a gostar muito de te ler!
ResponderEliminarVou passar por cá mais vezes.
Beijinhos,
Sofia