terça-feira, 17 de janeiro de 2012

23/11/2011

Às oito e meia chego ao Centro de Saúde. Às nove e treze nasce uma menina.

A mulher despe-se. A mãe dela passa-nos baldes de água. A A. usa a roupa da mulher para lhe limpar as pernas, cobertas de pó.

A mulher está em trabalho de parto há muito. O bebé está em bradicardia. Occitocina intramuscular.

A A. calça luvas estéreis. Pouco depois, ainda com elas calçadas, mexe num balde de sujos.

Alguns puxos. Cabeça de fora. Sai o corpo.

O bebé é aspirado. O cordão é cortado. A pele e o cabelo são secos. APGAR 7/9. O coto é desinfectado com Betadine. Não há álcool a 60%. Vejo a A. fixar uma ligadura à volta da barriga do bebé.

Vocês cobrem o cordão? Não o deixam secar ao ar?
Se o deixarmos descoberto, as mulheres vão pôr lixo. Acreditam que cura. Vão infectar tudo.

Para que me interessa saber que se deve usar álcool a 60%? Se não há?
Para que me interessa saber que a ligadura favorece a humidade e a infecção? Se a usam?
Tudo o que aprendeste é posto em causa e sentes-te ainda mais burra do que é costume.

De volta da mulher. Sai a placenta.
Tem a bexiga cheia. Não consegue fazer xixi.
Pergunto se têm algálias. A A. mostra-me um tubinho pousado numa cuvette.

A mulher é algaliada. Limpa. Coberta com panos que fazem de penso higiénico.
Levanta-se e anda até à outra sala.
Dá de mamar. Descansa.

Vem a mãe da mulher. Lava o chão à volta da marquesa.
Leva a placenta e o líquido amniótico num saco plástico.

Eu pingo suor. A minha visão está meia turva.
Não tenho mais água de garrafa.
A A. olha para mim e ri-se.

Branco pelélé.

1 comentário:

  1. Que vivência que tu estas ai a ter....
    Parabéns Rita!
    Parabéns mesmo ...

    Baci

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