sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Sem título

O J. era um doente conhecido do serviço.
Já lá tinha estado duas ou três vezes. Sempre com infecções respiratórias.
Desta vez, deu entrada no nosso serviço de urgência a saturar a 73%.

O J. perdeu a capacidade de falar.
Os olhos já estavam vidrados.
Máscara de Venturi. Oxigénio a 15 litros. Saturações nunca superiores a 90.

- Doutora. Se este homem descompensa... É para reanimá-lo?
- Não tinha pensado nisso... Tenho de falar com a  filha...


O J. passou a DNR - do not resuscitate.
E há uns dias, finalmente, partiu.

Cansado do esforço respiratório, o coração começou a bater devagarinho. Até parar.
Não foi no meu turno.

Fui ao Hospital, fazer a minha entrevista de avaliação de desempenho.
E lá estava a filha na Recepção.

Fui ao encontro dela.
Ela abraçou-me. Agradeceu-me.
Disse que a minha equipa foi fantástica.
Disse que, num momento tão difícil, se sentiu entre amigos.

E o gesto daquela mulher desolada, fez-me sentir o peito tão cheio.
Fez-me sentir tanto orgulho.
Da equipa que trabalha comigo.
De mim.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Nocas,

No outro dia estava na cama, prestes a dormir.
Lembrei-me daquele Verão, quando fomos jantar à casa do E.
E demos cabo do carro naquela quelha em que mal cabia uma bicicleta.

Vieram-me as lágrimas aos olhos, perdida de riso.

Que saudades de tempos que já lá vão.
E que ficam para sempre.

:)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Outubro

Íamos de carro.
Chovia lá fora e a rádio ligada.

"Mulher, tu sabes o quanto eu te amo, o quanto eu gosto de ti".

Pronunciaste todas as palavras, enquanto olhavas para mim.

E eu quis ficar assim para sempre.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Há dois anos trabalhava nas caixas do Continente

Para juntar dinheiro para trabalhar em Inglaterra.


Há dois dias ajudei a salvar um homem com um pré edema agudo do pulmão.

E sinto que me tornei tão crescida em dois anos.