domingo, 10 de junho de 2012

Olho para o P.


O corpo é frágil, magro.
A língua é uma pedra de tão desidratada.
Os olhos reviram
Os rins falham.
Tem espasmos.

Hoje aspirei-o.
Só porcaria a dificultar-lhe a respiração. E ele sem conseguir tossir.

O P. já não come.
Os meus colegas queriam entubá-lo.
Felizmente o médico não concordou.

Alimentar um corpo que está praticamente morto faz-me confusão.
Mas isso sou eu, que ao que parece, sou cruel e quero matá-lo à fome.

Penso no fio que o mantém aqui.
No fio que nos mantém aqui. A nós todos.
Como é frágil.

E apesar disso, no meu trabalho manipulamos o fio, muitas vezes com sucesso.

Já disse que adoro ser enfermeira?
E que no fim do primeiro ano da faculdade não me via a fazer isto?

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