sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

03/12/2011

Hoje de manhã, no Centro de Recursos, os meninos pintavam. 
O pó das mãos passava para o papel, e as folhas brancas rapidamente assumiam a cor dos seus donos.

Um deles encheu-se de coragem. Levantou-se e entregou-me o desenho. Os outros de olhos muitos abertos. Todos muito sérios.
Aceitei-o. Disse que estava bonito e agradeci. Pedi-lhe um beijinho, o qual ele recusou, envergonhado. E riu-se.
Depois, enroscou-se a mim como fazem os gatos. Olhou para os colegas com o ar de vencedor "ó p´ra mim abraçado à branca".

Os outros imitaram-lhe o gesto.
Pedi novamente beijinhos. Só um deles, o mais pequeno, teve coragem de dar o primeiro passo e tocar com os lábios na minha bochecha.
Riam-se todos. Como se um beijo de cara fosse uma espécie de ordinarice. Uma coisa só de amantes.

De repente, tenho uns sete rapazinhos amarrados a mim. Um de cada vez, dão-me beijinhos. Com o cuidado de limpar o nariz ao punho, antes de o fazerem. Que os pretos têm um sentido de limpeza extraordinário, parecendo que não.

Ao Centro de Recursos veio também um rapaz pedir-me dinheiro.
Teve um acidente. Mostrou-me um pedaço de papel. 
A minha colega prescreveu-lhe amoxicilina e ibuprofeno. Olho para ele.

- Irmã, n' ka tene dinheiro.

- Ó rapaz. Eu também não. Tenta arranjar. Pedir à tua família... Não tenho dinheiro para te emprestar. Se não tiveres dinheiro para os dois, tenta comprar ao menos este. Aponto para o antibiótico. É um antibiótico. Para essas feridas não "criarem".

Ele olha para o chão. Agradece e vai embora. Vejo-o desaparecer do meu ângulo de visão. 
Recusei dar dinheiro para alguém comprar medicação. 
E tinha lá outra hipótese? Se o desse, amanhã tinha meia Cacheu a fazer o mesmo. E com que cara ia negar a estes, quando tinha dado ao primeiro?

Os desenhos dos meus meninos. Ainda estão comigo.



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