Hoje, enquanto registava material escolar, a mãe para a filha:
- Blábláblá. Tens de estudar, B.. Se não, olha... Vais trabalhar para as caixas do supermercado, como esta menina.
No Continente, eu sou igual às minhas colegas. Não trago a palavra licenciada estampada na testa. Nada me destingue das operadoras de caixa que têm a quarta classe.
Infelizmente, a minha tia - que vive de aparências e pensa que é chique - foi fazer compras e encontrou-me a trabalhar. Andou a dizer para quem a quisesse ouvir que uma pessoa formada como eu não tinha necessidade de estar ali.
As minhas colegas ouviram. Meio Continente ouviu.
Senti vontade de chorar. De tanta raiva e vergonha.
As pessoas mudam quando sabem que tens um curso superior.
De um dia para o outro, começam a responder ao teu bom-dia e não bufam quando fazes asneira da grossa na máquina registadora.
Deixei a cliente ir embora a pensar que eu sou um caso perdido, sem o 12º ano. Não me compete argumentar.
Ali, eu sou apenas mais uma operadora de caixa, no patamar mais baixo da hierarquia.
Sou igualzinha às minhas colegas. Que, provavelmente, não sabem cateterizar nem descrever a fisiopatologia de uma úlcera de pressão. Mas sabem registar uma entrega ao domicílio sem chamarem apoios e nunca se enganam nos trocos.
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