domingo, 13 de fevereiro de 2011

J.

O J. morreu hoje.
Cheguei ao trabalho às oito menos um quarto.
Mesmo a tempo de ver a agência funerária a levar o corpo.

Branco.
Boca aberta.
Pele dura.

Armei-me em forte. Não chorei à frente dos senhores da agência.
Mas fui a correr para a casa de banho.
Chorar sozinha até ficar com a cara inchada.

O J. tinha cancro esofágico terminal.
Era um senhor amoroso e sabia que tinha poucas semanas.
Um dia apanhei-o na cama, amarrado a um urso de peluche. A chorar.
Tinha medo de vir a precisar de fraldas.

Eu vi o J. a rir e a andar pelo próprio pé.
Vi-o perder cor.
Deixar de comer. Vomitar.
Mudei-lhe as fraldas.
Virei-o na cama.
Dei-lhe morfina.
Vi-o revirar os olhos. Perder a fala.
Vi-o coberto com uma toalha bordô e dourada.
E sem respirar.

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