segunda-feira, 16 de maio de 2011

No meu trabalho, há uma enfermeira indiana

No outro dia, eu e a Y. trabalhámos no mesmo piso.
Às seis e meia da tarde fomos para o escritório fazer registos.
Sem perceber muito bem como, a minha vida privada virou tema de conversa.

Modo português activado.

- Então? És casada?
- Não.
- Namorado?
- Não.
- Porquê? És uma rapariga bonita. Tens de arranjar alguém.
- Talvez. Mas não estou interessada.
- Mas sabes, uma mulher só se sente completamente realizada ao lado de um homem.

Eu, que tenho pavor a estas conversas, tive vontade de ser maldosa. De dizer:
Isso é o que tu pensas. Lá na Índia envenenaram-te a cabeça. Aposto que aos sete anos já estavas prometida a alguém...

Em vez disso, respondi:
- Talvez. Para já estou bem sozinha...

Sou muito grata por ter nascido num país e numa família que me deram opções.
Nunca fui obrigada a nada. Ou quase nada - a minha mãe obrigava-me a comer farinha de pau com peixe quando era pequena. Entre outras coisas.

Eu falo-falo-falo, mas já não sei como é estar numa relação. Assim, a sério.

Aposto que tem coisas giras.
Tipo.
Dormir em conchinha.
Ter alguém para falar sobre o inferno que é o nosso trabalho.
Ver filmes enroscadinhos.
Fazer amor várias vezes por semana.
Sentirmo-nos protegidos.

Mas... Tirando a parte de fazer amor, eu consigo fazer tudo o resto com os meus amigos.

Se esta felicidade que sinto - ainda que estando sozinha - não é realização.
O que é então?

4 comentários:

  1. Fazes tudo o resto com amigos, inclusive dormir em conchinha!? ;)

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  2. Eu acho que a distância entre a amizade e o amor é um caminho muito curto, só que visualmente parece muito longo...

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