quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Coisas que só a mim

Arrumar a casa em cuecas, armada em boa.

É p'ra quebrar, kuduro vamos dançar, kuduro oi oi oi...


Toca o telefone.

E neste estado de tristeza humana, recebo um convite para uma entrevista de emprego. Em Portugal :)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Vinte e quatro

Os melhores amigos do mundo são aqueles que, no teu dia de anos, usam a música do post anterior na hora do parabéns a você.
E não reclamam quando tu cantas desafinado, com meia garrafa de vinho no bucho.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Este ano,

A minha versão favorita do parabéns-a-você é esta :)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Hoje foi café de gajas tarde dentro

E eu continuo a dizer que tenho os melhores amigos do mundo.

De quem eu já me afastei.
Quando a minha cabeça só congeminava formas de eliminar calorias.
E eu não tinha mais conversa a não ser comida e dietas.

As minhas amigas sabem o que a casa gasta.
Ouvem-me falar de vomitado e não me julgam.
Ouvem-me e só isso já é bom.

Rimos juntas.
E eu não lhes sinto rancor, mesmo depois de eu, de repente, ter deixado de dar notícias e ter desaparecido do mapa.
As minhas amigas perdoaram-me as falhas.
E eu continuo a achar que tenho muita sorte.
Por ainda tê-las a meu lado. Por usufruir da companhia delas, ainda que não seja frequentemente.

Obrigadas :)

06/12/2011

Faz dias que não escrevo. O cansaço é muito.
O calor a partir das dez deixa-me mole. Mas de manhã e à noite o ar é fresco e faz tudo valer a pena.

Nos últimos dias, sou mais do que enfermeira.
Essas camas neste quarto. 
O cardiotocógrafo aqui. 
É preciso etiquetas para a sala de stock. 
O aspirador de secreções na sala de parto. 
Para que me mandam cateteres binasais, se não temos oxigénio em cilindros nem sistema interno hospitalar?
Sou lavadeira também.
Tirar vestígios de tinta e cimento com uma espátula.
Lavar o chão com ácido.
Tirar o pó das paredes.
Fazer todas as camas.

O material está todo na maternidade. Pronta para inaugurar amanhã.
Estou mais nervosa que o director.

Ontem conduzi até Canchungo.
O meu pai, que me chama maçarica, devia ver-me a conduzir um carro de guerra. Lindo. Fiquei ensopada; muito mais esforço do que uma hora de ginásio.

No outro dia embebedei-me. Fiz a espargata. Fui para o quarto ao colo.

Só cenas.

Ainda sobre a A. E outras coisas.

A A. não gostava de mim no início.
Aliás. Custa-me a crer que ela goste realmente de alguém.
A vida foi amarga com ela. Paralisou-lhe o hemicorpo esquerdo.
E ela respondeu a este destino com uma malvadez que se entranhou nela até aos ossos.

Mas hoje, quando a ajudei a ir ao quarto tirar os casacos, e lhe pus roupa mais leve, até articulou um obrigada. Palavra que até à data não constava no seu dicionário, tanto quanto pude constatar.

Eu adoro trabalhar com velhos. Nem lhes vou chamar idosos, se bem que foi assim que aprendi na escola e é neste termo que a sociedade vê respeito.
Quando digo velhos, não falo com malícia. Aliás, adoro tudo o que é velharia.
Basta olhar para a minha roupa. Calças desgastadas e camisolas com borboto. All Stars falsificadas, que já deram a volta ao mundo, e têm a sola castanha em vez de branca.
Com as pessoas é igual. O tempo passa por elas e deixa-lhes marcas. E eu vejo nelas algum encanto. Até nas rugas.

Ainda não me decidi bem.
Por um lado, queria um mestrado em Paliativos.
Por outro, a Saúde Mental continua a ser o meu sonho. Porque com um mestrado destes posso mergulhar mais fundo nos distúrbios alimentares. Fazer um trabalho de investigação até. Ajudar pessoas na mesma situação que eu.

E quando digo ajudar, não me refiro só a tirar os macaquinhos do sótão.
Para mim ajudar, passa também por ensinar estratégias a quem não consegue controlar os impulsos. Seja de comer, seja de vomitar.
Coisas tão simples como ensinar que os dentes não devem ser escovados após o vómito. Porque causa (ainda mais) erosão do esmalte. Bochechar água é melhor. Ou uma mistura de água com bicarbonato de sódio.

Eu sei de cor todas as manhas. Todas as neuroses que nos passam pela cabeça.
Quando vomitas para um saco plástico tens melhor percepção do volume de comida que acabas de ingerir/eliminar. Às vezes até te perguntas como é que coube tudo dentro do teu estômago.
Mas ao perceberes que está tudo cá fora, de novo, num saco plástico, a tensão alivia. E pensas que ao menos isto não foi parar às tuas pernas.
O que é erróneo.

Sim, será Saúde Mental.
E para breve, se der.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Maus fígados

A A. nunca dá bom tempo.
É uma velhota que eu gosto muito. Por ter um feitio difícil e ser necessário engenho para lidar com ela.

Há umas semanas atrás. Levava eu anéis de bijuteria.
- Isso nem é prata nem é nada.
- Pois não. É pichebeque.
- E esse cabelo...
- O que é que tem o meu cabelo?
- Não gosto.

A A. é uma velhota despachada. Diz tudo o que tem a dizer. Não manda recado por ninguém.
As outras senhoras não podem com ela. Os senhores também não.

Ainda hoje.

- Então A.. Que tal o fim-de-semana?
- Ó. Isto... Os homens aqui são todos uns paneleiros. E as mulheres para lá caminham.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

03/12/2011

Hoje de manhã, no Centro de Recursos, os meninos pintavam. 
O pó das mãos passava para o papel, e as folhas brancas rapidamente assumiam a cor dos seus donos.

Um deles encheu-se de coragem. Levantou-se e entregou-me o desenho. Os outros de olhos muitos abertos. Todos muito sérios.
Aceitei-o. Disse que estava bonito e agradeci. Pedi-lhe um beijinho, o qual ele recusou, envergonhado. E riu-se.
Depois, enroscou-se a mim como fazem os gatos. Olhou para os colegas com o ar de vencedor "ó p´ra mim abraçado à branca".

Os outros imitaram-lhe o gesto.
Pedi novamente beijinhos. Só um deles, o mais pequeno, teve coragem de dar o primeiro passo e tocar com os lábios na minha bochecha.
Riam-se todos. Como se um beijo de cara fosse uma espécie de ordinarice. Uma coisa só de amantes.

De repente, tenho uns sete rapazinhos amarrados a mim. Um de cada vez, dão-me beijinhos. Com o cuidado de limpar o nariz ao punho, antes de o fazerem. Que os pretos têm um sentido de limpeza extraordinário, parecendo que não.

Ao Centro de Recursos veio também um rapaz pedir-me dinheiro.
Teve um acidente. Mostrou-me um pedaço de papel. 
A minha colega prescreveu-lhe amoxicilina e ibuprofeno. Olho para ele.

- Irmã, n' ka tene dinheiro.

- Ó rapaz. Eu também não. Tenta arranjar. Pedir à tua família... Não tenho dinheiro para te emprestar. Se não tiveres dinheiro para os dois, tenta comprar ao menos este. Aponto para o antibiótico. É um antibiótico. Para essas feridas não "criarem".

Ele olha para o chão. Agradece e vai embora. Vejo-o desaparecer do meu ângulo de visão. 
Recusei dar dinheiro para alguém comprar medicação. 
E tinha lá outra hipótese? Se o desse, amanhã tinha meia Cacheu a fazer o mesmo. E com que cara ia negar a estes, quando tinha dado ao primeiro?

Os desenhos dos meus meninos. Ainda estão comigo.



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Feliz dia de S. Valentim

A 20 minutos de entrarmos no dia dos namorados, e porque o Facebook está cheio de campanhas anti-violência doméstica.... Eu encho-me de romantismo e publico uma foto com o estado provável do homem que, um dia, decida levantar-me a mão.



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Desabafos de uma tarada sexual

Eu faço anos este mês.
Se tiverem dúvidas relativamente ao meu presente, aqui ficam algumas sugestões.








Sendo que a pessoa da última imagem é do sexo masculino.

Tcharam!


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Recebi um selinho...

Merci beaucoup, Amelie. ! :)


As regras são as seguintes:

1) Link de volta com o blogger que lhe deu;
2) Cole o selinho no seu blog; 
3) Escolha 5 blogs para repassá-lo, que tenham menos de 200 seguidores;
4) Deixar comentário a avisar que vão receber o selinho.

Os blogs seleccionados são...

O da São.
O da  Sahaisis.
O do Enfermeiro.
O dos Ratos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

02/12/2012

Chega ao Centro de Saúde um rapaz.
Febre, diarreia, história de convulsões em casa.
TDR (Teste de Diagnóstico Rápido) positivo para o paludismo.

Prescrevo num pedaço de papel.
Duas garrafas de soro glicosado a 5%, três ampolas de complexo B, duas ampolas de quinina, duas ampolas de novalgina, um cateter 22G, um sistema de soros, uma seringa, uma agulha, um rolo de adesivo.

Uma mulher vai à farmácia.
Eu vou buscar algodão e álcool. O único material que temos disponível.
A mulher está de volta.

Preparo o soro. Garroto o braço. Cateterizo. Fixo o cateter com adesivo.
Dou a novalgina em bólus. O líquido entra no corpo. Não vejo edema. O cateter parece estar in situ.
Adapto o sistema de soros. Furo a garrafa com a agulha. Abro o sistema e ajusto o débito.
O soro vai correr em quatro horas.

Vou ter com o E. para me certificar de que não falta mais nada.
O E. é recém-formado em medicina. Quando fala comigo não me olha nos olhos. Olha para o meu decote. E eu deixo. Olhar não arranca pedaço e ele nunca me faltou ao respeito.
É extremamente humano e profissional. Adora crianças. Foi ele que se sentou comigo no outro dia e me explicou direitinho o procedimento a ter em caso de malária.

O céu de Cacheu, à noite, emociona-me. Cá em baixo é tudo tão escuro e lá em cima o preto é carregado de pontos brancos.
Escrevo sob uma rede mosquiteira, impecavelmente entalada debaixo do colchão.
Durante a noite, vou acordar num emaranhado de lençóis e rede. Vou acordar com a pele de fora, à mercê dos mosquitos. Felizmente, nesta época do ano não são muitos.
Vou acordar às cinco da manhã, hora a que o muçulmano reza a Alá. Com um megafone.
E vou levantar-me às 7:00, quando a temperatura ainda é amena.

O corpo está cansado. A minha mão escreve em modo automático.