quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Joana


Não vou dizer nada que já não te tenha dito antes.
Gosto muito de ti.
Sabes disso. Espero...
No outro dia chorei ao ler a tua mensagem.
Podias, perfeitamente, fazer-te passar por anónima e dares-me uma lição de moral.

Obrigada por não me julgares.
Por seres sincera sem sarcasmos.
Pelo carinho.
Por tudo. Tudo.

sábado, 25 de setembro de 2010

A Vida dos Outros, episódio já-lhe-perdi-a-conta

Hoje, enquanto registava material escolar, a mãe para a filha:
- Blábláblá. Tens de estudar, B.. Se não, olha... Vais trabalhar para as caixas do supermercado, como esta menina.

No Continente, eu sou igual às minhas colegas. Não trago a palavra licenciada estampada na testa. Nada me destingue das operadoras de caixa que têm a quarta classe.

Infelizmente, a minha tia - que vive de aparências e pensa que é chique - foi fazer compras e encontrou-me a trabalhar. Andou a dizer para quem a quisesse ouvir que uma pessoa formada como eu não tinha necessidade de estar ali.
As minhas colegas ouviram. Meio Continente ouviu.
Senti vontade de chorar. De tanta raiva e vergonha.

As pessoas mudam quando sabem que tens um curso superior.
De um dia para o outro, começam a responder ao teu bom-dia e não bufam quando fazes asneira da grossa na máquina registadora.

Deixei a cliente ir embora a pensar que eu sou um caso perdido, sem o 12º ano. Não me compete argumentar.
Ali, eu sou apenas mais uma operadora de caixa, no patamar mais baixo da hierarquia.
Sou igualzinha às minhas colegas. Que, provavelmente, não sabem cateterizar nem descrever a fisiopatologia de uma úlcera de pressão. Mas sabem registar uma entrega ao domicílio sem chamarem apoios e nunca se enganam nos trocos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Eu e o Prozac


Juntos. Outra vez.

Hoje, a Dr.ª T. ouviu a minha história. Fiz questão de não poupar nos pormenores. Os mais macabros que se podem imaginar.

A expressão dela não mudou.
Nem quando enumerei a quantidade absurda de coisas seguidas que eu consigo comer quando tenho crises. Nem quando lhe contei que enfio uma escova de dentes pela goela abaixo e vomito. Vomito tudo. Comida, culpa, remorsos, raiva.


Explicou-me a opinião dela com termos que não me são, de todo, estranhos. Reconheci-os das aulas da faculdade.
Depressão. Ansiedade. Serotonina. Bulimia nervosa.


Nem sei o que me leva a escrever isto aqui.

Isto devia pertencer à parte dos meus gatafunhos diários que não passa para o blog. Aquela parte que eu considero demasiado íntima.
A verdade é que eu estou cansada de guardar sozinha estes segredos.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Pornografia

Isto pode parecer uma musiquinha-pimba-inocente.

Para mim é um filme erótico. Shh (baba).

Vá, chamem-me nomes.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Memórias da...


Casa de banho das bailarinas-e-princesas-que-não-fazem-cocó!

O meu bebé

Que envelheceu ao meu lado, morreu nos meus braços. No Sábado.

Sinto tanto tanto tanto.
Geralmente, desfaço-me em água quando estou triste.
Mas desta vez não consigo.
É pena. Ia fazer-me bem...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sabem um sítio para se passear à Sexta à tarde?

O cemitério.

As campas dos mortos têm mensagens tão bonitas.
Das mais bonitas que se podem dedicar a alguém, apesar da lamechice.
Pergunto-me se alguma vez as pessoas terão ouvido os familiares ou os amigos a dizerem aquelas coisas...

Amo-te muito e nunca te esquecerei.

Por que é que é tão difícil dizer estas coisas aos vivos?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Já não é a primeira vez que me perguntam

Porquê olhos de mongol?

Em primeiro lugar, não tem nada que ver com o álbum dos Linda Martini.
Não conhecia a banda nem o álbum, quando comecei a usar o username em alguns cantos da Internet.
O álbum é de 2006. Por isso, se quisermos falar nestes termos, eu é que os copiei.

O nome tem outra história.

Sabem estas pessoas?
Portadores de Trissomia 21. Síndrome de Down.
Vulgo: mongolóides. Ou em abreviatura, mongóis.

Eu tenho olhos como os deles.
Rasgados. Em forma de amêndoa.
Também se aplica se falarmos em deficiência. Tenho miopia. 2,5 de dioptria em cada olho.
E o mais parecido ainda. Vejo o mundo como eles. Ingenuamente.

Ainda sobre a Vida dos Outros

Um adolescente. 16 ou 17 anos.

Único artigo: uma caixa de preservativos.
Viradinha para cima, no tapete rolante.
Dois clientes na fila, atrás dele.

Pagou os 11 euros e não-sei-quanto e olhou-me nos olhos.
Sem vergonhas.

Eu é que fiquei parva.
Estou encalhadinha há tanto, que não fazia ideia que os preservativos fossem tão caros.
:)

sábado, 4 de setembro de 2010

Ontem de manhã,

a primeira coisa que o meu pai disse quando me viu não foi bom dia. Foi:

- O Carlos Cruz foi condenado a sete anos de cadeia.

Eu, que não vejo televisão, não faço ideia das provas que existem. Contra ou a favor dele.
Mas li comentários no Youtube. Pessoas que acham que ele devia ter sido condenado a prisão perpétua ou à pena de morte.

Eu sou contra a pena de morte.
A expressão do Saddam Hussein poucos minutos antes de morrer ainda não me saiu da cabeça.

Isto até teve piada.

Eu trabalho numa caixa de supermercado...

Ou seja, tenho bilhete de primeira fila para assistir a um filme. O d'A Vida dos Outros.

N'A Vida dos Outros há coisas que me fascinam.

Tipo.
Ontem, foi a primeira vez que passei uma caixa de preservativos na registadora.
Foram colocados pela senhora no tapete rolante. Meticulosamente escondidos dos olhares alheios, por baixo de uma revista.

Há também as senhoras, geralmente a rondar a casa dos cinquenta, que escondem a roupa interior. Cuecas de fio dental e sutiens rendados.

Para mim é mais vergonhoso ir ao Continente comprar um frango churrasco e pedir uma resma de 100 sacos plásticos para negócios particulares.
Mas isso sou eu.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

(...) ANA RITA CABRAL GONÇALVES MARTINS

é titular da cédula profissional n.º 4-E-6**** é Enfermeira e membra efectiva desta Ordem.

:)