quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Os que me saem na rifa

O P. tem um feitiozinho que deus-me-livre.
Ninguém gosta dele.
E ele ‘tá-se nas tintas p’ra isso.

Amputado de uma perna. Tem uma ferida infectada na outra.

Como sou nova no Centro gosto de ir falar com os utentes.
Ainda que na maior parte das vezes não perceba metade do que eles dizem.
Anyway.

Começamos a conversar em inglês da primária.
E eu toda convencida.
Toma! Ele não gosta de ninguém, mas até vai à bola comigo.

Acontece que, de há uns dias para cá, começou com uma conversa…
Que eu sou uma menina muito bonita e mais não sei quê.
Perguntou-me se tenho namorado e eu respondi-lhe que gosto de estar sozinha. Que tenho uma personalidade difícil e ninguém está p’ra me aturar.

Depois pediu-me um beijo na boca e disse que me amava muito.
Comecei-me a rir.
Não te rias de mim. É por ser velho e não ter uma perna? É?

Agora, o P. toca à campainha de 15 em 15 minutos.
Se mando um auxiliar ter com ele, pede para falar pessoalmente comigo.
Aquilo que no início me deu vontade de rir já perdeu a gracinha toda.
E eu fico nervosa só de pensar que tenho de lhe levar os antibióticos.

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