sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Dicas de beleza para 2011
Mãos-à-obra. Faça o que eu não faço:
1. Assegure-se de que os seus pêlos das pernas não ultrapassam os 5 milímetros de comprimento.
2. Mantenha as sobrancelhas meticulosamente arranjadas.
3. Não calce meias rotas.
4. Não vista casacos com borboto.
5. Não deixe os seus pés virarem lixas para madeira.
...
2445474. Deite as sapatilhas podre-de-velhas ao lixo e compre uns sapatinhos em condições. Se forem de tacão alto, melhor ainda.
...
999999998. Depois do banho, deixe-se de preguiça e passe creme hidratante.
…
No caso de existirem, desse lado, pessoas como eu – cheias de roupa velha, pele seca e áspera, e com fobia a cera depilatória – proponho que façam o seguinte:
Conservem as pessoas que gostam mesmo de vocês.
Agradeçam-se mais.
Abracem-se mais.
Perdoem-se mais.
Riam-se mais juntos.
Não há tratamento de beleza mais eficaz do que ser feliz.
:)
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Em 2011
Eu admito - sou uma pessoa cheia de defeitos...
Admiro muito os meus amigos por gostarem de mim à mesma.
Há uns tempos atrás, recebi um comentário anónimo nesta postagem.
De alguém que não me conhece.
Se conhecesse, saberia que eu detesto o papel de vítima.
Não suporto gente que ó-p’ra-mim-não-tenho-sorte-nenhuma.
Eu não me dou por vencida com facilidade.
Mas quando admiti ter perdido a batalha contra o distúrbio alimentar, senti um alívio enorme.
Tento falar disso com a mesma naturalidade com que falo de todas as outras coisas: dinheiro, roupa, sexo, o que for.
Podia, facilmente, entregar-me às mãos dos senhores doutores.
Esperar que os medicamentos fizessem magia.
E que um belo dia eu acordasse e não tivesse vontade de materializar os meus problemas numa pasta de chocolate.
Bem que podia esperar sentada.
A cura exige trabalho.
Leio o máximo que posso para perceber o que vai na minha cabeça.
Bulimia nervosa, distorção da imagem corporal, alimentação emocional…
Mas o anónimo sabe melhor dos meus problemas do que eu.
Sabe que isto tudo é veneno da sociedade.
Que eu quero desesperadamente ser magra-como-uma-tábua, mesmo que isso contrarie o meu genótipo.
Que sendo magra, posso finalmente ser capa da Vogue.
Ter o desejo ardente dos homens.
E a inveja mortal das mulheres.
Eu, ingénuazinha, acho que as coisas não são assim tão quadradas.
Para mim, isto é psicologia barata.
Meti-me a fazer Reiki.
O D. diagnosticou-me um desequilíbrio no segundo chakra.
E em função disso descreveu a minha personalidade tim-tim-por-tim-tim. Senti-me nua.
A tendência ao isolamento. A comida. A falta de energia sexual. Os problemas menstruais. E por aí.
Se me virem em casa, em posições menos ortodoxas... Não, não vou entrar num filme pornográfico.
É para abrir o chakra, diz ele.
Dois filmes
Este.
E este.
Despertam tanta coisa que eu não consigo explicar.
E mesmo que tente... Não sei por onde começar.
Também vos acontece?
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Coisas-absolutamente-parvas-para-não-dizer-nojentas
Toma, p'ra aprenderes a 'tar calada!
Quando fala, faz muitos gestos com as mãos. Vai aos agudos quando se ri.
Pensei logo em casá-lo com um amigo meu.
Então.
Estávamos a falar.
Modo português activado.
- Sabes, tenho um amigo que ia adorar conhecer-te.
- Ai sim? Porquê?
- Falei-lhe de ti. Podias dar-me o teu e-mail; punha-vos em contacto num instante.
- Eu não sou gay, querida. Pareço. Mas não sou.
- Não és?
Silêncio constrangedor.
- Agora é a parte em que eu falo dos meus filhos.
- Ahahahahah!
domingo, 26 de dezembro de 2010
Ó não! Lá vem ela com a mesma conversa!
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Os livros, as músicas, os filmes, as novelas…
Eles não falam de amor.
Mas nós acreditamos que sim.
Toda a gente já experimentou.
Saudades que queimam o peito.
Nervos que fazem tremer a voz.
Calores a subir pelas pernas.
Não é engraçado?
O amor, que é tão bonito, já nos fez chorar a todos.
A dor da ausência deixa-nos tolinhos. E transforma em cóceguinhas qualquer dor de dentes ou enxaqueca.
Sofrer por amor é uma espécie de droga.
Mas quem sou eu para julgar?
Afinal de contas eu também tenho comportamentos aditivos. Empanturro-me e vomito a seguir. Não sou propriamente um bom exemplo...
Mas estava eu a dizer que há gente masoquista.
Gente que gosta de amar e sofrer ao mesmo tempo.
Gente que não se importa de amar por dois.
Gente que ama sem ser amada.
Que dá amor a quem não merece.
Há aqueles que ficam cegos.
E os que alimentam esperanças. Dia-após-dia-após-dia.
E isto é tão triste.
Ora se é triste, não pode ser amor.
Natal
Ai uish iu a méri crisstmass,
Ai uish iu a méri crisstmass,
End a épi niu iar!
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Ser velhinho
A maior parte deles nem repara.
Olham fixamente o vazio.
Corpo no presente e mente no passado.
Que confusões lhes passarão pela cabeça?
O que faz alguém chorar sem motivo?
Gritar de repente?
Tentar espetar-me um garfo no braço?
Muitas vezes pergunto-me que tipo de velhinha eu vou ser.
Se chegar lá.
Será que vou ser carinhosa? Ou vou praguejar o dia todo?
Cérebro. Demência. Hormonas. Neurotransmissores. E essas coisas.
Vem tudo nos livros.
Mas ler é diferente de viver.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Em Janeiro
Auschwitz.
Que segredos terá aquela terra para me contar?
Aquela terra que viu tanta gente morrer?
Tenho medo de nem ter coragem para ouvir.
Às vezes, sonho que vou numa estrada com muita gente.
Somos muitos e está a escurecer.
Olho para o chão e o caminho tem lama.
Eu estou descalça. Tenho calças às riscas.
Tão real...
sábado, 18 de dezembro de 2010
Pessoas que me fazem bem!
Enviei-lhe fotos do possível amor da minha vida por e-mail. P'ra ver o que ela achava.
Que nós gajas somos assim.
Seguiu-se a seguinte conversa.
- Rita, quando tu vem pra Madrid pra eu poder bater em ti? O "bobby" é tudo de bom. Como é que tu não pega de jeito um boffe desses menina? Todo fofo...
- Blábláblá. Chega a hora H e a coisa não desenvolve.
- Blábláblá. Falta um clique? Vontade? ...
- Não sei.
- Faça o teste. Tome uma garrafa de vinho...
Juro que vou experimentar.
Afinal de contas a C. é uma mulher entendida no assunto. Ahahaha!
Na Sala de Convívio do Piso 1
A C. pede-me um táxi.
A D. não sabe onde está.
A MM. engasga-se com o xarope. A P. ri-se dela. O R. ri-se da P. que está sentada no próprio chichi.
A MR. cai e abre a cabeça.
E para a P. não se passa nada.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
E já que estamos numa de lamechice...
Há uma grande probabilidade de isto ser uma pergunta retórica.
Eu gostava que não fosse.
:)
Eu não era assim
Eu mando-lhe e-mails com músicas românticas.
'Tá bonito. Ffff.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Olha que bem!
Primeira visita a um doutor inglês.
- Ána Mártins?
Modo Português Activado.
- Blábláblá. Toma medicação?
- Sim. Mostro-lhe as marcas, traduzo o princípio activo, explico-lhe porque é que tomo e quantos tomo.
- Toma 3 Prozacs por dia?
- Sim.
- Isto resolveu a sua situação?
- Não, de todo.
- Quando é que foi a última vez que teve episódios de compulsividade alimentar seguidos de purga?
- Hummm. Ontem à noite? Mas olhe, eu tenho é dores no corpo e acho que estou com febre...
- Vamos marcar uma consulta para revisão de medicação.
- Pode só ver se tenho febre? É que não tenho termómetro em casa...
- Marque com a secretária para a semana que vem, pode ser?
Tinha 37,9º. Mandou-me tomar Paracetamol, beber muitos líquidos e descansar.
Dava jeito uma mamã para me fazer sopa.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
E ainda sobre palavras...
Estava agora a ter a última orgia alimentar do dia.
Que é a vingança por me sentir sozinha e não ter vontade de ir trabalhar amanhã.
Toca o telemóvel.
"I miss u".
É, ele tem 30 anos mas escreve mensagens à teenager.
E eu adoro.
"My Life Without Me"
Olá professor. Se um dia descobrir o meu blog, este post é para si.
Vou contar-lhe uns segredos.
No primeiro ano da faculdade, nutria por si uma relação de amor-ódio.
Ou seja, amava odiá-lo.
Mas era ódio mortal, acredite.
Faltei o máximo que pude às suas aulas.
Não sei o que se passou, entretanto.
No terceiro ano, pumba! Admiração descompensada.
Não faltei a uma aula. Nem à do dia em que produzi um litro de ranho e provavelmente estava melhor na cama.
Fiquei muito aliviada por não ter Sociologia no quarto ano.
Sempre fui azelha com as palavras.
Conceitos e definições não são comigo.
Textos difíceis, que é preciso ler devagar e muitas vezes para perceber, esgotam-me a paciência.
Não admira que a minha pior nota fosse sempre à sua disciplina.
De qualquer das formas.
Tenho muitas saudades de ouvi-lo falar.
Não do Foucault. Nem do Lévi-Strauss.
Tenho saudades de ouvi-lo falar do relógio e dos seus filhos.
Dos exemplos curriqueiros.
Das peregrinações a Fátima, até.
Não é toda a gente que nos faz sentir bebés e nos embala.
Só com palavras.
Estatísticas
Se não fosse o M. este blog nem existia.
Mas pronto, estava eu armada em entendedora, quando descobri isto.
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Ok. Eu tenho o blog há quase um ano.
E há pessoas que chegam facilmente às 300 mil visitas num mês.
Mas para mim, 10 mil visitas é espetacular.
Aliás. Ter 89 pessoas a visitarem-me por dia é um bocado estranho.
Eu acho que não conheço assim tanta gente.
O cheiro do cancro
O cancro tem mesmo cheiro.
Os meus colegas enfermeiros sabem disso.
Eu aguento bem o cheiro a vomitado.
Cheiro a chulé.
Cocó.
Infecção urinária.
Suor e falta de banho.
Mas o cancro tresanda.
Mais ainda em estado avançado.
A I. morreu.
Últimos cuidados.
Imaginem a que é que cheira o meu uniforme?
domingo, 12 de dezembro de 2010
É hora de ir ao médico
sábado, 11 de dezembro de 2010
Eu tenho memória olfactiva
Consigo ver perfeitamente o cabelo dela apanhado num puchinho e o avental cheio de nódoas.
A cera Veet lembra-me fome.
A associação é tão longínqua que demorei a perceber.
Com 12 anos, cheguei a pesar 70 quilos.
Os problemas com comida começaram aí.
Valeu de tudo. Não comer, comer e vomitar, chás, cremes, exercício até cair para o lado.
Cheguei aos 48 quilos.
E ganhei um pêlo esquisito no corpo - que mais tarde, na faculdade, descobri chamar-se lanugem.
Eu tirava a lanugem com Veet. Com o estômago a gritar por comida. E eu a fazer orelhas moucas.
A propósito, associo a música "I'm Like a Bird" da Nelly Furtado à mesmíssima coisa.
O detergente para a roupa da marca Xau transporta-me para o serviço de Ginecologia.
Que será feito da dona C.?
Tantas vezes fui ao armário buscar roupa lavada. E aquele cheiro...
A minha mãe usa este perfume.
Que se altera, quando lhe toca na pele.
E eu, de olhos fechados, consigo identifica-la no meio de 100 mulheres com perfume da mesma marca.
Só pelo cheiro.
A minha primeira casa - cheia de recordações boas e más - vai sempre cheirar a alcatifa e incenso de framboesa.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
S.e M.
E não imaginam o nervoso que me dá não poder entregá-las agora-agora.
Diz o meu pai
Querido Pai Natal
Olha.
Faz-me um favor.
Acaba com esta palhaçada do Natal.
Pronto.
Não sejamos tão radicais.
Acaba só com a tradição de embrulhar presentes em papel novo.
Pode ser?
É que depois vai tudo para o lixo...
E eu tenho pesadelos à noite.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Voltas
Porquê?
Nem eu sei.
Ia para Ponte de Lima pela auto-estrada.
160 quilómetros por hora.
Passou-me pela cabeça perder o controlo do carro. Muitas vezes...
Ainda bem que não o fiz.
Porque um ano depois, sou feliz como nunca fui.
Apesar de tudo.
Do pouco dinheiro no banco.
Dos problemas com a comida.
Da falta de gente com quem falar.
Quando só te tens a ti mesma como companhia, aprendes a gostar um bocadinho.
Até compras vinho.
E festajas num dia em que, aparentemente, não há nada para festejar.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Quando não se tem muito dinheiro
Terça-feira e para mim é Domingo
E pela primeira vez desde que aqui cheguei, não olhei para o preço antes de escolher.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Eu adoro o meu trabalho
O meu manager é larilas e mexe-me com os nervos? Certo.
As salas de enfermagem são mais desarrumadas do que o meu quarto? Sem dúvida.
Mas as pessoas fazem tudo valer a pena.
No outro dia a M. chamou-me. Queria apresentar-me a família.
Conheci dois peluches e um nenuco.
A C. pensa que a sala de convívio é um restaurante. Enquanto faço a ronda da medicação chama por mim para pagar a conta.
Pergunta como me chamo dez vezes por dia.
Não se lembra do que aconteceu há um minuto atrás. Mas a memória ainda lhe permite falar nove línguas.
A M. passa a vida a cantar. Os outros não a suportam.
Este fim de semana cantei com ela. Uma letra inventada num idioma desconhecido.
O meu trabalho faz-me muito feliz.
Apesar de tudo.
De me sentir burra na metade do tempo.
E ignorante na outra metade.
sábado, 4 de dezembro de 2010
Estas mãos
Que vivem debaixo de água e desinfectante, têm tanto para contar.
Já tocaram em sangue que não era meu.
Saliva que não era minha.
Bebés por nascer.
Mortos.
Estas mãos dão de comer. Lavam e aliviam dores.
Já tocaram outras peles. Muitas peles. Tanta gente.
Eu gosto delas.
Os utentes também.
E enchem-nas de beijos.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Dois de Dezembro
Treze horas de trabalho.
Vou a pé para casa.
Muito frio. Neve. Corpo dorido.
Tomo banho com água a ferver.
Olho a noite pela janela.
Demasiado cansada para pensar.
Tocam à campainha.
Do outro lado da porta lá está ele.
Não foi convidado.
E sabe que mesmo assim é bem-vindo.
Abro a porta e deixo-o entrar.
Ontem eu fiz Amor.
Não aquele amor em que se troca cuspe e orgasmos.
Fiz Amor, Amor.
Abracei-o e ficamos assim muito tempo.
Em vez de me tocar nas maminhas, cheirou o meu cabelo.
Hoje de manhã deixei-o partir.
De volta à República Checa.
Se calhar nunca mais o vejo.
E não estou triste.
Eu fiz Amor.
Daquele que não pede nada em troca.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Déjà vu
Hoje, ao aspirar o portátil, descolei o plástico que ainda cobria o ecrã.
Fiquei lixada.
Mas depois disse para mim própria em voz alta:
- Nóssa. Fáiz tempu qui tava pra tirá êsse negócio.
Ri até me virem as lágrimas aos olhos.
Tenho saudades da tua presença física.
Já que em pensamento estás sempre comigo.
Que sorte!
7:30 am. Tocam à campainha.
Ó, rais-parta-o-carteiro!
- Good morning.
- Hi.
E o resto em português, para vos poupar dos meus erros gramaticais.
- A sua agência imobiliária contratou-nos para trocar o esquentador. Presumo que a senhora saiba...
Mas isso não era só p'ró mês que vem?
- Ah, sim, sim. Entrem.
Blábláblá.
- Sabe dizer-me quanto tempo isto pode demorar?
- Ui, é rápido! Até às cinco da tarde está pronto!
Fuck!
Barbequins, martelos, casa em pantanas.
Ainda bem que já tenho dinheiro para um aspirador.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Eles adoram-me
Silêncio.
- I've got your tablets, darling. Could you take them for me, please?
- No.
- Come on. Just two small ones. They're important for your...
- I-said-no!
Sento-me na cama.
- Ok, Rita. By the way, do you know my name is Rita, too? I come from P...
- Oh, shut the fuck up!
domingo, 28 de novembro de 2010
Ninguém é perfeito
- Ritinha, e que idade é que ele tem?
- Trinta.
- É rico?
- Muito. É tão rico que quando aqui chegou dormia numa tenda…
Nos últimos dias tenho escrito mais do que é costume.
Passo a maior parte do tempo sozinha. Penso muito. Como ainda mais.
Não tenho com quem conversar.
Por isso, conto a minha vida a uma folha de papel.
Desde que cheguei, o R. é a única pessoa com quem converso (ao-vivo-e-a-cores) sobre coisas que não sejam medicamentos, planos de cuidados e enfermagem em geral.
O R. gosta da minha luz. Sei lá bem o que ele quer dizer com isto.
Só sei que gosto.
Não há muita coisa que eu aprecie em mim.
Ok. Gosto do meu pescoço.
Tirando isso, adoro falar mal de tudo.
Ultimamente pus-me a pensar...
No quanto a minha vida mudou.
Estou longe.
Dos meus pais. Dos meus amigos. Da minha casa de sempre.
Não conheço ninguém. Mal consigo expressar-me.
Tenho muitos defeitos.
Mas não me falta fibra.
No outro dia, escrevia à S. e ao M. sobre o R..
Aliás, farto-me de falar dele a quem me queira ouvir.
Giro, educado, cheira bem.
Faz-me rir.
Ri-se ao ver-me comer.
Dá-me espaço.
Olha-me nos olhos durante muito tempo, sem dizer nada.
Demasiado bom para ser verdade.
Se calhar cheira mal dos pés.
Juro que não percebo.
Por que é que não abro a porta e o deixo entrar?
Será algum desequilíbrio hormonal? Ou os medicamentos?
Medo de me apaixonar a sério?
Medo de fazer amor com um homem, depois de tanto tempo?
Só de pensar em tirar a roupa e expor a minha carne à vista de alguém, dá-me um nervoso.
Qual enfermeira?
Vou mas é para freira.
A família toda
Web-cam ligada.
Tia S. - Titinha, 'tás-me a ver?
Eu - Sim, sim, tia. Blábláblá.
O meu pai a mexer nas definições da câmara.
Mãe - Que 'tás tu p’raí a fazer?
Pai - É p’ra se ver melhor, ó. 'Tá calada que tu disto num percebes.
Carrega numa tecla.
Eu continuo a ouvi-los. Ninguém me ouve a mim.
Mãe - Olha! Já estragaste isto!
Pai – Eu? Eu nem mexi em nada. Mexi, S.?
Tia I. – De que é que ela se ‘tá rir?
Quer-me parecer que o jeito para a tecnologia é genético.
sábado, 27 de novembro de 2010
Sábado à noite
Sei as músicas todas de cor.
Há coisas que o tempo não apaga. Nunca nunca.
Mesmo que um dia fique velhinha e senil. Vou lembrar-me.
O meu favorito: A Pequena Sereia.
Mas tem de ser nesta versão brasileira.
Também morro de amores pela Pocahontas e pela Mulan.
E ainda choro baba e ranho com o Rei Leão e com o Papuça e Dentuça.
Qual é o vosso favorito?
Isto é cada filho-da-mãe
Como é que um labrego pode ter um avião destes?
Hum?
Achei
Fim de Novembro
A vista da minha sala é esta.
Aquecedores no máximo.
Chávena de café na mão.
Cabelo por pentear e olhos ainda com remelas.
É o meu Sábado de manhã.
Ontem recebi uma mensagem do G.
Não chorei. Mas o meu coração disparou.
Tenho saudades de ter companhia. Sem ser das plantas e flores cá de casa.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Ao telefone com o meu querido P.
- Olha, nada. Arrumar a casa... Organizar tralha... Depilação...
- Depilação?! Ei lá. Vais comer o checo?
- ... Sim?!
- Fogo. 'Té q'enfim.
- O que é que visto?
- Ui. Blábláblá-eu-não-sei-bem-mas-acho-que-gajos-straight-gostam-de-langeries-pretas-e-de-rendinhas-blábláblá...
(Perdida de riso) - Ó P... Achas mesmo que vou p'ra cama com o R.?
- Ó! Vai! Vai!
- 'Tá bem, vou com ele p'ra cama. Dormir. E babar-lhe a camisola como da última vez. Ah, e a propósito. Obrigada pelos conselhos. Vou lembrar-me de ti da próxima vez que comprar cuecas.
90% da minha roupa interior é aos bonecos.
Que segundo o P. é infantil e corta-tesão.
Faz-nos sentir um bocado pedófilos.
Eu até sou boa rapariga
Folga
Sou capaz de perder horas a fossar as lojas de artigos em segunda-mão.
Este banquinho custou 4 libras e é um amor.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Os que me saem na rifa
Ninguém gosta dele.
E ele ‘tá-se nas tintas p’ra isso.
Amputado de uma perna. Tem uma ferida infectada na outra.
Como sou nova no Centro gosto de ir falar com os utentes.
Ainda que na maior parte das vezes não perceba metade do que eles dizem.
Anyway.
Começamos a conversar em inglês da primária.
E eu toda convencida.
Toma! Ele não gosta de ninguém, mas até vai à bola comigo.
Acontece que, de há uns dias para cá, começou com uma conversa…
Que eu sou uma menina muito bonita e mais não sei quê.
Perguntou-me se tenho namorado e eu respondi-lhe que gosto de estar sozinha. Que tenho uma personalidade difícil e ninguém está p’ra me aturar.
Depois pediu-me um beijo na boca e disse que me amava muito.
Comecei-me a rir.
Não te rias de mim. É por ser velho e não ter uma perna? É?
Agora, o P. toca à campainha de 15 em 15 minutos.
Se mando um auxiliar ter com ele, pede para falar pessoalmente comigo.
Aquilo que no início me deu vontade de rir já perdeu a gracinha toda.
E eu fico nervosa só de pensar que tenho de lhe levar os antibióticos.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Querida pessoa
Duas dicas infalíveis...
Fim-de-semana
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Conhecemo-nos há uma semana
Na primeira vez, deu-me isto.
Na segunda, isto.
Muita gente pode achar que é um presente mesmo parvo para se dar a alguém.
Eu adorei.
Alguns amigos meus não imaginam que uma caixa de cereais para o leite me possa fazer tão feliz.
O R. acertou logo.
Há muito tempo que um homem não me toca em condições.
Por isso, basta-me sentir o braço dele à volta dos ombros para me arrepiar até à espinha. Ó-mái-gódeeee!
Hoje fui ao supermercado. Fiquei a olhar para uma caixa de Durex durante três minutos e a pensar.
Não trouxe.
Simples.
Não me apetece ir para a cama com ninguém.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Estúpida, pá!
Lindo de morrer.
Olhos azuis-ou-verdes-ou-lá-que-é.
Cheio de brancas em idade precoce.
Convidou-me para jantar e eu, que não converso com ninguém em condições nas últimas semanas, aceitei. Ó p'ra mim, armada em esquisita.
Sabe falar português-brasileiro.
Faz trabalho comunitário e bioenergético.
Tem uns dentes neoblanc.
Deu-me isto.
Ofereceu-se para me trazer a casa.
Podia ter aceite.
Provavelmente acabávamos na cama a fazer amor noite dentro.
Mas não.
Não vale a pena. É já aqui à beira.
domingo, 14 de novembro de 2010
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
AVC
Para os meus queridos leitores que não sabem o que é e têm preguiça de ir ao Google pesquisar, vou ser breve.
Pondo de parte o palavreado médico, um Acidente Vascular Cerebral acontece quando o cérebro deixa de ter oxigénio suficiente.
Geralmente, isto acontece porque alguma veia ou artéria entupiu.
Ontem, enquanto ajudava a J. no banho, pumba.
As pernas perderam a força.
A boca deformou-se.
Vomitou.
Fez cocó nas cuecas.
Uma coisa é cuidar de gente que teve um AVC.
Outra coisa é ter um a acontecer à nossa frente.
Quando digo que os velhinhos do Centro são um amor, vocês nem imaginam.
- Don't worry. I'm alright. I like your hair.
Depois perdeu os sentidos e desmaiou-me nos braços.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
As vantagens de fumar
Sou profissional de saúde e é uma vergonha.
Aumenta a probabilidade de vir a sofrer de uma série de cancros e não sei quê.
Mas também é um passaporte para conhecer pessoas.
Á pois é! Estou a fazer progressos.
Dez minutos de conversa com um holandês.
Falamos do Stonehenge e das leis da Física.
Sem propostas indecentes. Que é a melhor parte.
Aposto que vocês também jogavam a isto...
A vossa versão também era assim?
Ou a letra era diferente?
:)
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Este post é dedicado aos meus colegas
Ainda assim, acham-se super atarefadas e cheias de trabalho.
Se fizessem uma manhã num dos nossos Serviços, eram, muito provavelmente, internadas nos Cuidados Intensivos.
Aqui eu tenho elevadores. Quatro auxiliares. Poucos doentes. Muito tempo.
Sabem aquela intervenção pateta que aprendemos na escola?
E que depois chegamos ao hospital e as enfermeiras riem-se da nossa ingenuidade?
E descobrimos que não é possível?
Aqui é. Há um chefe de cozinha. Só temos de lhe dizer que o senhor X não gosta de cebolas.
Para muitos colegas meus, a situação é diferente.
Não têm elevadores. E têm doentes pesados.
Usam a força do corpo e magoam as costas.
Têm doentes dependentes.
Que precisam de banho. De fralda. De creme. De alguém que os vire na cama.
Têm muitos doentes. Pouco tempo. E poucas ajudas.
Mas mesmo assim, fazem.
Uma vénia para eles.
Ó pá!
Vai à casa de banho fazer chichi e lavar os dentes. O que é que encontra no caminho?
O super-violador de boxers.
Pior. O super-violador de boxers aos bonecos!
Por que raio é que eu não sou assediada por tipas destas?
Por que é que só me saem lingrinhas ou agentes imobiliárias com excesso de peso?
Alguém me explica?
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sábado, 6 de novembro de 2010
Companheiros
O Peter. A Sally. A Jennifer.
A verdade é que passei o Sábado sozinha.
Sozinha não. Com uns amigos. Mas esses já vocês conhecem.
Chamam-se Pão, Bolachas e Chocolate.
Os ingles são snobs. Assino por baixo.
São simpáticos comigo, a maior parte das vezes. Mas é só por cortesia, parece-me.
Estão muito longe de ser afáveis e acolhedores. Tirando os velhinhos do Centro onde trabalho.
Ontem mantive uma conversa de mais de dez minutos com um senhor.
Pensei que fosse uma excepção à regra. Uau! Um inglês tão falador como eu.
Ele contou-me que ia à igreja. Eu disse-lhe que era enfermeira.
Falámos de animais. Ambos vegetarianos.
E blábláblá.
Até que ele começa com uma conversa...
I like you. Really. Can I take a picture of you?
Se calhar não era nada, mas eu que sou medricas, vi logo um super-violador-com-as-garras-de-fora.
Hoje de manhã sentou-se à minha beira para tomar pequeno-almoço. Dei-lhe good morning com a pior cara que pude e enfiei os olhos num livro.
Convidou-me para ir ao Stonehenge e eu menti-lhe ao dizer que já tinha planos com o meu boyfriend.
Em vez de ir ao Stonehenge fui comprar um frigorífico.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Enfermeira outra vez
Atirou-se da cadeira abaixo.
Começou a falar com ninguém numa língua que só ele percebe.
A I. tem 96 anos, uma insuficiência renal e um bigode capaz de competir com o do meu pai.
Dei-lhe bom dia e ela respondeu-me com um sorriso amoroso de um só dente.
Os velhinhos cuidam muito bem de mim.
Babam-se. Dizem coisas tontas. Riem-se sem motivo nenhum.
Fazem-me esquecer que o meu inglês é péssimo.
Vão morrer em breve. Como a senhora de ontem, a quem foram feitas manobras de reanimação inúteis.
As saudades que eu tinha disto...
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
A minha vida aqui é assim:
Chego à cama e no minuto a seguir não adormeço. Morro.
Abri uma conta para poder alugar uma casa. O meu saldo deve dar vontade de rir aos senhores do banco. Quarenta e nove libras.
Sinto-me uma burra.
Metade do inglês passa-me ao lado.
Há pessoas extremamente gentis. Que dizem que o meu inglês is excellent.
Há outras que reviram os olhos quando me engano na gramática das frases.
Hoje, na imobiliária, fui assediada.
Darling isto. Honey aquilo.
Apertei-lhe a mão em forma de agradecimento. Cheirou-me o pulso.
Segundo ela, o meu cheiro era lovely e o meu perfume very feminine.
Hoje tive sete horas de formação seguidinhas.
Do pouco inglês que apanhei deu para perceber que muitas das técnicas que aprendi na escola são arcaicas.
Trabalho, oficialmente, num hotel de cinco estrelas para a terceira idade. Bibó luxo!
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Meus amigos...
(...) E arranja-me uma inglesa :p E arrnanja uma casa com sitio pa eu ficar uns dias (chama-se a isto "auto-convite" :p).
M., morri de pranto com isto.
Ai que emigranta, ó!
Obrigada aos dois. Que rir e chorar fazem ambos falta.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Começa bem, começa...
- Sim, sim. Correu bem. E tu, como estás?
- ...
- Má?
- Ana... Eu só quero que sejas feliz, filha... Que corra tudo bem.
- Mãe, não chores. Se não vou chorar tamém...
A minha mãe não é de dizer estas coisas. Sei perfeitamente que o sente, mas dizê-lo? Nunca.
Comecei-me a rir e mandei-lhe beijinhos e desliguei o telemóvel.
Depois fui a chorar até Waterloo.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Recordes
Desta vez não estou a falar de comida. Embora nisso também seja uma concorrente de peso.
Estou a falar de choradeira.
O meu último recorde foi na Finlândia, quando falei com o G. pela web-cam.
Hoje voltei a perder a conta das horas...
Nem é o medo de deixar a minha casa. Os meus pais. Os meus amigos.
Esses vão estar sempre aqui para mim.
Eu sou uma enfermeira-bebé.
A possibilidade de não saber fazer as coisas, de errar, de fazer mal, angustia-me.
Frágil
Há uns dias atrás o medo era nenhum.
Mas ontem virei um glaciar.
Hoje acordei a meio da noite e custou-me voltar a adormecer.
Faço muitas contas ao dinheiro.
Já pensei criar um grupo no Facebook "Vamos ajudar a Rita a pagar a casa".
Não me apetece falar.
Nem festas de despedida.
Mais estranho ainda. Não me apetece comer.
Nem bolachinhas. Nem latas de leite condensado. Nada.
Sabem aquela vontade de correr para o colinho de alguém?
De chorar um bocadinho. Ouvir que vai correr tudo bem.
Eu queria.
Mas depois sinto vergonha por ser tão mimada. E não me dou a esse luxo.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Concurso
Ainda sobre falatórios...
Segundo eles, um casal conhecido.
O debate, muito escandalizado, andava à volta do seguinte.
Eu acho estranho que para os meus amigos - supostamente pessoas com cabeça aberta - isso cause tanta comichão na língua.
As minhas amigas que namoram fazem broches. As que não namoram, se calhar, também fazem. E se não fazem, já fizeram.
Pior ainda. Tenho amigos gays. Homens que fazem broches a outros homens.
Isso escandaliza-me?
Não.
Até lhes dou beijos.
Sei lá como o vídeo do casal foi parar à Internet. Aposto que a intenção não era essa e eles tiveram azar.
Seja como for, é um bom motivo para se entrar na vida privada dos outros e se falar mal deles.
Alguém me explica por que é que...
Por exemplo.
Se escreverem no Google "celebreties", vão aparecer automaticamente algumas sugestões.
As mais procuradas. Digo eu.
Ora, se o meu raciocínio estiver certo, o que é que as pessoas mais procuram?
Celebridades sem maquilhagem.
Com as mamas ao léu.
A fumar droga
Ou cheias de borbulhas.
Felizmente, há aquelas menos maldosas que só querem tirar modelos para cortes de cabelo.
Por que raio é que somos assim?
- Toma, a Julia Roberts também tem celulite nas pernas.
- Aahahah! O meu namorado devia ver a Rihanna sem maquilhagem. É que mesmo sem dinheiro, sou mais gira do que ela ao acordar.
- O quê? A Mariah Carey engordou vinte quilos? Bem-feito. A ver se deixa de se armar nos videoclips.
Quem é que não tem fotografias destas?
Fotografias em que estamos mal vestidos.
Nús, até.
Fotografias em que o fashion da época nos parece tão ridículo agora.
Ficamos mais descansados porque só os nossos pais sabem da sua existência. E os nossos amigos nunca poderão saber, a não ser que, num acto de loucura, a gente lhes mostre.
(Acto de loucura)
Ser celebridade e ter gente a falar de nós a todas as horas do dia deve ser horrível.
Ok. Ter dinheiro para ir passar férias ao Dubai é fixe.
Mas também é fixe poder ir despejar o lixo de robe e de pantufas.
E as únicas pessoas a falarem mal de nós serem os nossos vizinhos.